seus olhos, tão negros, tão belos, tão puros,
de vivo luzir,
estrelas incertas, que as águas dormentes
do mar vão ferir;
seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
de meiga expressão
mais doce que a brisa, \u2014 mais doce que a frauta
quebrando a soidão.
seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
de vivo luzir,
são meigos infantes, gentis, engraçados
brincando a sorrir.
são meigos infantes, brincando, saltando
em jogo infantil,
inquietos, travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento,
com modo gentil.
seus olhos são negros, tão belos, tão puros,
assim é que são;
às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
às vezes vulcão!
às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
tão frouxo brilhar,
que a mim parece que o ar lhes falece
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
me fazem chorar.
assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
desperta a chorar;
e mudo, sisudo, cismando mil coisas,
não pensa \u2014 a pensar.
nas almas tão puras da virgem, do infante,
às vezes do céu
cai doce harmonia duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste
de pranto co'um véu.
eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
de vivo fulgor;
seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia,
com tanto pudor.
seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
assim é que são;
eu amo esses olhos que falam de amores
com tanta paixão.
(do livro: & quot; livro do corpo& quot; , lp& m editores, 1999, rs)
2ª geração romântica \u2013 álvares de azevedo
sonhando
na praia deserta que a lua branqueia,
que mimo! que rosa! que filha de deus!
tão pá ao vê-la meu ser devaneia,
sufoco nos lábios os hálitos meus!
não corras na areia,
não corras assim!
donzela, onde vais?
tem pena de mim!
a praia é tão longa! e a onda bravia
as roupas de gaza te molha de
de noite, aos serenos, a areia é tão
tão úmido o vento que os ares perfuma!
és tão
não corras
donzela, onde vais?
tem pena de mim!
a brisa teus negros cabelos soltou,
o orvalho da face te esfria o suor,
teus seios palpitam \u2014 a brisa os roçou,
beijou-os, suspira, desmaia de amor!
teu pé tropeç
não corras
donzela, onde vais?
tem pena de mim!
e o pálido mimo da minha paixão
num longo soluço tremeu e parou,
sentou-se na praia, sozinha no chão,
a mão regelada no colo pousou!
que tens, coração
que tremes assim?
cansaste, donzela?
tem pena de mim!
deitou-se na areia que a vaga molhou.
imóvel e branca na praia dormia;
mas nem os seus olhos o sono fechou
e nem o seu colo de neve
o seio
não durmas assim!
o pálida fria,
tem pena de mim!
dormia: \u2014 na fronte que níveo
que mão regelada no lânguido
não era mais alvo seu leito do mar,
não era mais frio seu gélido leito!
nem um
não durmas
o pálida fria,
tem pena de mim!
aqui no meu peito vem antes sonhar
nos longos suspiros do meu coração:
eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
teu colo, essas faces, e a gélida mã
não durmas no mar!
não durmas assim.
estátua sem vida,
tem pena de mim!
e a vaga crescia seu corpo banhando,
as cândidas formas movendo de leve!
e eu vi-a suave nas águas boiando
com soltos cabelos nas roupas de neve!
nas vagas sonhando
não durmas
donzela, onde vais?
tem pena de mim!
e a imagem da virgem nas águas do mar
brilhava tão branca no límpido vé
nem mais transparente luzia o luar
no ambiente sem nuvens da noite do céu!
nas águas do mar
não durmas
não morras, donzela,
espera por mim!
3ª geração romântica \u2013 castro alves
o & quot; adeus& quot; de teresa
a vez primeira que eu fitei teresa,
como as plantas que arrasta a correnteza,
a valsa nos levou nos giros
e amamos e depois na sala
& quot; adeus& quot; eu disse-lhe a tremer co'a
e ela, corando, murmurou-me: & quot; adeus.& quot;
uma entreabriu-se um
e da alcova saía um cavaleiro
inda beijando uma mulher sem vé
era era a pálida teresa!
& quot; adeus& quot; lhe disse conservando-a
e ela entre beijos murmurou-me: & quot; adeus! & quot;
passaram sec'los de delírio
prazeres gozos do empí
um dia volvi aos lares meus.
partindo eu disse \u2014 & quot; voltarei! descansa! & quot;
ela, chorando mais que uma criança,
ela em soluços murmurou-me: & quot; adeus! & quot;
quando era o palácio em festa!
e a voz d'ela e de um homem lá na orquestra
preenchiam de amor o azul dos céus.
entrei! ela me olhou surpresa!
foi a última vez que eu vi teresa!
e ela arquejando murmurou-me: & quot; adeus! & quot;
(s. paulo, 28 de agosto de 1868.)
resposta da atividade